Tainara Saraiva dos Reis, 12 anos, era torcedora do Grêmio e deixava de sair de casa quando tinha jogo do time para assistir à partida com o pai. Ela sonhava ser jogadora de futebol ou bombeira, para salvar vidas, como ela dizia. Sua irmã gêmea, Tamires, era colorada e queria ser médica veterinária.
Tainara era brincalhona, usava roupas esportivas e não gostava muito de se produzir. Já Tamires gostava de usar brincos, pinturas e vestidos. Tainara fazia parte de um grupo de dança na Igreja Quadrangular do Reino de Deus, que a família frequentava. Tamires era diaconisa no mesmo templo religioso.
Em comum, as duas tinham a fé, o gosto pela disciplina de matemática e a paixão pelo futebol. Elas participavam de todos os campeonatos da modalidade esportiva na escola. Todas essas diferenças e semelhanças entre as meninas, todos os sonhos, alegrias e brincadeiras que as esperavam foram enterrados ontem, no Cemitério São Sebastião, em Rosário do Sul. As irmãs morreram afogadas na tarde de quarta-feira, no Rio Santa Maria, na Praia das Areias Brancas.
Segundo o pai das gêmeas, Marlo Benites dos Reis, 47 anos, as meninas eram muito unidas e, apesar de algumas briguinhas típicas da idade, viviam juntas e se davam muito bem. As gêmeas eram as filhas únicas dele e da mulher, Lucimar, não davam trabalho, eram obedientes e jamais saiam de casa sem a permissão dos pais, conta Marlo.
_ Eu não sei como vou viver sem elas _ lamenta o pai.
Emilene Girardi, professora de educação física da escola Estadual de Ensino Fundamental Emília Prates, onde as irmãs estudavam, conta, muito emocionada, que ela nunca precisou chamar a atenção de Tainara e de Tamires, porque elas eram muito comportadas.
Samantha Dutra, 12 anos, que estudava no mesmo colégio das gêmeas, lembra que, além de futebol, Tainara e Tamires também jogavam futsal, basquete e handebol. Ela disse que o sonho de Tainara era salvar vidas. E foi o que ela tentou fazer naquela quarta-feira.
Avó fará companhia aos pais das gêmeas
A avó materna das meninas, Altiva Soares Saraiva, 80 anos, que mora na comunidade de Caverá, no 3º Distrito de Rosário do Sul, disse que as gêmeas eram muito responsáveis e muito queridas por todos.
_ Elas eram meninas muito boas, sempre dispostas a ajudar quem precisasse, tanto que elas morreram para salvar as vidas das duas amigas _ disse a avó.
Altiva contou, ainda, que a filha, Lucimar, mãe das meninas, está muito chocada e pediu a ela que fosse morar com o casal, para fazer companhia e ajudá-los a superar a dor da saudade das filhas.
Segundo Rosa Maria da Silva Borges, tia da Tainara e da Tamires, elas eram muito inteligentes e dedicadas na escola. Além disso, costumavam ajudar a mãe em todas as tarefas da casa. Ainda conforme a tia, a mãe das gêmeas estava, ontem, em abalo profundo. A mãe disse a parentes que suas duas únicas filhas nasceram juntas _ ela só descobriu que teria gêmeas algumas horas antes do parto _ e partiram juntas.